“O capitalismo de crescimento morreu. O socialismo de crescimento, que se lhe assemelha como a um irmão gémeo, reflecte-nos a imagem deformada, não do nosso futuro, mas do nosso passado. O marxismo, embora continue insubstituível como instrumento de análise, perdeu o seu valor profético.”
[…]
“A igualdade material deixa de ser uma preocupação maior quando não é indício de uma estratificação hierárquica: a riqueza material não é insultante nem empobrecente para os outros se não vier acompanhada de um privilégio ou de um poder sobre outrem. A pobreza material não é humilhante se procede de uma escolha em contentar-se com menos e não de um ostracismo aos escalões inferiores da sociedade.
A resistência do “homem de esquerda” ocidental a estas verdades revela até que ponto o seu universo cultural e os seus valores de referência foram uniformizados pelas relações mercantis: a desigualdade, para ele, não significa “diferença”, mas uma divisão hierárquica de classe, conforme se tem “mais” ou “menos”. Apenas esta uniformização da valores, de modos de vida e de objectivos individuais permitiu estender as relações mercantis e o salariato a todos os domínios da actividade humana. ”
Ecologia e Liberdade, Tradução de A. Cautela, Editorial Vega, 1978, tiragem de 3 000 exemplares
Surpreendida por este título (ou qualquer outro de A.G.) ter sido traduzido em português. Em pesquisa rápida, vejo que nem na BN há, nem consigo encontrar referência online… Obrigada! MPS
Olá, M.
A Gorz não parecem ter faltado edições em Portugal, mas leitores é possível que sim, apesar das tiragens avantajadas. Que eu saiba, há pelo menos três títulos dele em edição portuguesa: este “Ecologia e Liberdade”, “Ecologia e Política” e “Crítica do Capitalismo Quotidiano”, todos datados da década de 70 e, claro, esgotados. Mas seria capaz de apostar que os encontras na Letra Livre, com um bocado de paciência (o último podes encomendá-lo na Liv. Utopia, pois ainda há dias o vi, e baratucho). Caso não encontres os dois primeiros, posso ermprestar-tos.
P.S.
Por lapso, escrevi no post “Ecologia e Sociedade”, mas o título é “Ecologia e Liberdade”.
M.
Esqueci-me duma informação básica, e que talvez explique porque é que não encontraste as referências na B.N. De “Crítica do Capitalismo” não recordo, mas “Ecologia e Política” está assinado como Michel Bosquet, que era o pseudónimo que A.G. usava para o seu trabalho de teor mais jornalístico, e “Ecologia e Liberdade” traz na capa “Michel Bosquet (André Gorz)”.
Abraço.
Hoje já pedi na Letra Livre, de facto alertaram-me para o pseudónimo. Devem ter em armazém. Na BN já aparecem todos com o nome Michel Bosquet, e mais um: “Ecologia e Medicina”. Obrigada, beijinhos
Olá. A citação é de facto interessante, mas eu demoraria algum tempo até a conseguir ligar às minhas outras (escassas) leituras neste domínio. Por isso, agradecia se reservasses aí o livro para eu lhe passar os olhos da próxima vez que nos encontrarmos. Abraço.
Está reservado, e a obra é tão breve e condensada que se lê numa horinha. Mas sobre este tema do fim do crescimento há livros mais extensos, mais detalhados, mais recentes, e portanto muito mais convincentes. Um bastante recomendável é The End of Growth, de Richard Heinberg (2010).
Abraço