Archive for Outubro, 2009
The Go-Betweens
Posted in Uncategorized on 30/10/2009| 5 Comments »
Zbigniew Herbert
Posted in Uncategorized on 29/10/2009| Leave a Comment »
A GALINHA
A galinha é o melhor exemplo daquilo que acontece a quem vive
sempre ao pé dos homens. Perdeu completamente a graça e a leveza
das aves. Tem a cauda espetada por cima do dorso saliente como
um chapéu demasiado grande e de mau gosto. Os seus raros momentos
de êxtase, quando se apoia numa só pata e revira os olhos redondos
e de pálpebras foscas são de um grotesco espantoso. A juntar a isso,
uma paródia de canto, essa esganiçada súplica por cima dessa coisa
indizivelmente cómica: um branco, imundo e redondo ovo.
A galinha faz pensar em certos poetas.
(Versão, do inglês, de JMS)
Virginia Norris Adolph
Posted in Uncategorized on 27/10/2009| Leave a Comment »
Chen Yang-chun
Posted in Uncategorized on 26/10/2009| Leave a Comment »
Da inexistência de condições objectivas para a coisa (história infantil)
Posted in Uncategorized on 26/10/2009| Leave a Comment »
– Estamos aqui no Aviário Vida Fácil para entrevistar alguns trabalhadores avícolas. Dona Galinha Poedeira, boa tarde, uma palavrinha para a Tele-Radical…
– Ai eu agora estou a trabalhar.
– Compreendo. Diga-me só o que pensa das suas condições de produção. Acha que a entidade patronal tinha obrigação de lhe dar melhores condições laborais?
– Oh, coitados. Já muito fazem eles. Não, acho que não me posso queixar.
– Não se sente um pouco apertada? Reparo que quase não se consegue mexer nessa gaiola.
– Não. Está-se bem. Eu também não gosto muito de me mexer porque o movimento faz correntes de ar e eu sou muito friorenta.
– Mas essa gaiola…
– Diz aqui que é certificada pela UE e está conforme com todas as disposições do código laboral.
– Diga-me, quantos ovos põe por semana?
– Ah, não faço ideia.
– Sabe contar? Qual é a sua escolaridade?
– Olhe, eu agora não posso falar.
– Muito bem. Obrigado. Bom, passemos então para este lado. Boa tarde, Sr. Frango. Um pergunta, por favor, para a Tele-Radical. Acha justo ser criado para alimentar seres humanos?
– Homessa! Eu não sou criado para isso. Era o que faltava! Agora, se depois de morto sou comido ou enterrado no quintal – quero lá saber!
– Sabe-me dizer qual é a sua esperança de vida, Sr. Frango?
– Claro que sei. Cinquenta dias.
– E nunca se perguntou porquê cinquenta e não três mil e cinquenta?
– Três mil e cinquenta, bem, bem! Mas você é jornalista e não sabe que a vida de um frango são cinquenta dias?
– Não tinham de ser cinquenta, Sr. Frango. Podiam ser setenta vezes mais. Se são cinquenta é porque a entidade patronal considera que aos cinquenta a engorda está feita e é inútil gastar mais milho convosco
– Ora essa! Mas você pensa que eu sou parvo ou quê? Está a gozar comigo, é?
– Mas é verdade, Sr. Frango. Todos os zoólogos afirmam que, naturalmente, um frango pode viver entre oito e doze anos.
– Não me venha cá com essa treta dos zoólogos, que isso para mim são histórias da carochinha e eu não tenho tempo para fantochadas.
– Desculpe que lhe diga, Sr. Frango, mas só não tem tempo porque não quer. Repare que –
– Ouça lá, meu cientista dum corno, você veio aqui para me moer o juízo, foi? Não percebe que estou a trabalhar e não tenho tempo para conversas de chacha?
– Tem razão, Sr. Frango. Desculpe.
– É cada parvalhão!
Vítor Nogueira
Posted in Uncategorized on 22/10/2009| Leave a Comment »
RAÍZES
Sete gerações aqui passaram entretanto,
cumprindo a sua parte do acordo.
Filhos que não impediram a morte de seus pais,
prognósticos inscritos na velha ordem ritual.
Presos às raízes do passado, a nossa curiosidade
é omnívora: queremos saber tudo, conhecer
a composição da superfície, encontrar enfim
um ponto de equilíbrio. Mas a vida real
voltou, vem agora atrás de nós. Ouço-te respirar
do outro lado da linha. Apenas uma curta pausa
entre palavras. No Castelo os ciprestes
aproveitam, envelhecem na mesma direcção.