Se um livro recolhe a unanimidade dos críticos e o vemos celebrado em todas as esquinas da blogosfera, isso quase sempre significa que estamos perante um pastelão de receita, confeccionado para o gosto adocicado do intelectual médio. Depois da desilusão com objectos tão incensados como As Benevolentes ou Austerlitz, ninguém me apanhará a ler 2666 do Pena d’Ouro de 2009, que ainda por cima é comparado ao enfadonho alegorista das pampas. Como na crítica de cinema, se A, B ou C dizem mal, já sei que há boas hipóteses de estar perante uma obra-prima. Pelo contrário, se há cinquenta mil pessoas interessadas nisso, é porque isso não passa de espuma da saison, literatura aduladora do gosto e do sentimento médio, e nesse caso mais vale ligar a televisão.
Gato escaldado
29/09/2009 por JMS
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Apenas uma dúvida: Quando falas de televisão, estás a falar de quê? Dos “paineleiros” do futebol e da política – que podiam muito bem ser os mesmos? Da saudosa Manuela Moura Guedes e do Mário Crespo a dizer a meteorologia? Do piscar de olho malicioso e cúmplice desse magnífico escritor que é o José Rodrigues dos Santos? Do Canal de Histórias? Da infinita sabedoria do Rogeiro? Daquele senhor da CIP que diz que o Bloco assusta o investimento? Da comunicação do Cavaco marcada para hoje, 29 Setembro de 2009? Do Prós e Prós?
Urge esclarecer…
Abraço!
Joaquim, Joaquim, parece que não me conheces. A televisão liga-se para ver o FCP, obviamente. Servirá para mais alguma coisa?
Abraço.
De facto, a minha não. É que eu actualmente possuo uma daquelas fininhas e modernas – a esquerda caviar é assim…
Mas houve tempos em que cheguei a usá-la para pousar o SG Filtro, a carteira, um ou outro cinzeiro e até, pasme-se, uma Nossa Sra de Fátima oferecida pela minha mãe. Mas não esqueças que existe muito boa gente que as transforma em magníficos aquários com peixinhos cor de laranja.
Podias muito bem fazer o mesmo à tua e ir ver o Grande FCP ao café mais próximo.
Abraço.
Em vez de ligar a televisão, ou mesmo tendo-a ligada, pode pegar num pequeno livro de Bolano, como por exemplo, o “Nocturno Chileno”, editado pela Gótica em 2003, e que na altura não deve ter vendido a ponta de um corno e que entretanto já desapareceu de quase todas as livrarias. Em vez de se pôr a bater no que não conhece, experimente e verá que Bolano não tem nada a ver com esses histéricos que montaram o espetáculo em torno dele. Quanto a este 2666, as primeiras 70 páginas parecem escritas a despachar. Mas nada de fazer juizos antecipados.
João Urbano,
Falar do que não se leu é um dos direitos consignados na Constituição portuguesa, um direito, aliás, do qual os críticos literários costumam tirar grande proveito. De qualquer modo, eu não falo do que não li, nem sequer do que não quero ler (há aqui uma diferença subtil), limito-me apenas a articular uma suspeita: se A gosta de Z e eu não gosto de A nem das coisas de que ele costuma gostar, para quê perder tempo com Z? Claro que posso estar enganado e, por uma vez na vida, A ter acertado em cheio. Ninguém está livre de acertar na mosca às cegas, e por isso é que se inventou o totobola. Mas como eu não tenho fé em totobolas, nem dinheiro a mais, prefiro torcer o nariz e lembrar-me de argoladas afins. O que não impedirá, claro, que um dia destes dê uma cheiradela ao tal Bolano.
Só agora me apercebi que o JMS é o mesmo do Ad Loca Infecta. Então, pelo pouco que o conheço (Blog, poesia), tenho quase como garantido que quando pegar no Bolano, que é também um escritor político, não o vai largar tão cedo. E aqui não estou a apostar no totoloto. Aconselho-o a não pegar na miserável edição portuguesa de Detectives Selvajens. Mas, não deixe de ler o Nocturno Chileno, que se despacha num vaip e é um livro extraordinário, ou então “Estrela Distante”, que também é um grande livro. A ditadura de Pinochet está lá como jopgo alegórico. Deixe o 2666 para depois, e não ligue ao foguetório, deveras confrangedor. Bolano não tem nada a ver com essa gente e a vida que Bolano levou então é o reverso completo dos jogos tácticos daqueles que fazem agora a festa, caricata.
Emanuel Nunes costuma dizer, acerca dos seus concertos de estreia, que, se não sair gente da sala, fica preocupado com a qualidade da obra que compôs. Isto não é elistismo. É lucidez sobre o mau gosto. Por mim vou deixar o pó assentar e esperar por alguma opinião fiável, vinda do silêncio.
Concordo com o Nuno Dempster…..palavras sensatas de Emanuel Nunes.