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Archive for Junho, 2009

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Deborah Eisenberg

Vale a pena a recomendação, porque não é todas as semanas, nem todos os anos, que se descobre uma ficcionista tão subtil, capaz de tratar com tamanha graça e desenvoltura as ínfimas tragédias, invisíveis para todos, de uma pequena vida, como todas são, se vistas de perto. Contra esse equívoco jornalístico da “great american novel” (qual great, qual american, qual caralho – os norte-americanos são bons é em stories e short-stories!), as narrativas de Deborah Eisenberg são concentrados de inteligência, poesia e humor aplicados à interrogação do mundo e das relações humanas. Não se percebe como não decorre neste momento, entre os nosso editores,  um morticínio pela aquisição dos direitos  de All Around Atlantis ou Twilight of the Superheroes.  Como aperitivo, uma entrevista.

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Apelo

É pena que ainda ninguém se tenha lembrado de criar por cá um sítio assim, para onde pessoas anónimas pudessem enviar os tesouros fotográficos que têm encafuados em gavetas e baús poeirentos. Não há nada mais enternecedor do que a fotografia do bisavô em cuecas, da avó no piquenique organizado pela tia do primo da cunhada do anónimo Sr. Campos, gaseado na Primeira Grande Guerra, do pai debaixo do triciclo, do aniversário daquele primo ranhoso que todos tivemos. E das nossas ruas quando havia nela espaço para burros com mais de duas patas, e porcos, se quiserem, ou galinhas poedeiras. Imagens,  em suma, de um passado morto-vivo.  Porque não há maneira mais melancólica de viajar para o passado, onde nada verdadeiramente nos fere.

Mother's vacation, 1963

Mother's vacation, 1963

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Parafraseando não-sei-quem (ou-sei-mas-não-me apetece-dizer), eu há muito dependo da bondade dos carteiros, esses discretos emissários do mundo real, que chegam de vespa, nem cedo nem tarde, e quase sempre com boas notícias. A felicidade existe por correspondência? Existe. Pelo menos quando chega via amazon, ou por caligrafia amiga. Hoje, por exemplo, Oráculos de Cabeceira, de Rui Pires Cabral, onde logo na primeira página se lê assim:

 

“I felt that it was all unreal.”

 

Chega ao fim do dia

a hora mais lenta, quando o céu

é vago e as luzes se acendem

no prédio da frente.

 

Vemo-los por vezes

dentro das janelas, vultos

delicados como miniaturas

ou meros reflexos que passam

nos vidros.

 

Alguns prosseguem encargos

de sombra, outros detêm-se

a olhar a rua, no gesto

a expressão do seu puro

enigma.

 

E são como provas

de coisa nenhuma. Se acaso

nos fitam, parecem dizer:

a morte não será decerto

mais estranha que a vida.

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para Dias Loureiro, que após  vinte ou trinta anos de desinteressada dedicação à causa pública chega ao fim da carreira sem um tostão no bolso. Já não se fazem políticos assim. O nosso bem haja. Obrigado por tudo.

Tanto trabalho para nada

Tanto trabalho para nada

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VEREDAS DE LÚCIFER

Virulenta é a crise
de programada que foi
e orquestrada
para um tempo de expurgo e razia,
uma limpeza nos locais de trabalho.
É como o sexo dos anjos,
a que convém não atribuir sexo,
míngua do espaço nos orfanatos.
Somente carecia-se de bodes
expiatórios, de comadrio no empreendimento
e do novo centro atractor de toda
a riqueza.

Que fazer? com uma entidade angélica
pervertida na sua natural neutralidade,
afinal. Que fazer quando o desejo
colectivo é seguir igual, fingir
que não se chegou à orla do vulcão?…
quando impera a absoluta separação
entre as condições objectivas e as subjectivas,
quando o real se pauta pelos tablóides,
quando o trambolhão está aí
amortecido. Ver, sentir tudo isto,
ser-se anjo, ser-se um anjo
excedentário, caído.

 

(Retirado daqui)

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